Era uma tarde fria que se estendia lânguida pela paisagem tranquila... Instabilidade, tensão e uma quentura nauseante apenas a meu interior perturbava. Acabara de naufragar, eu que tão habituada estava a navegar sozinha por estas águas... Mas a tormenta hoje fora implacável!
Há alguns dias eu observava o céu e sabia que ela viria forte, porém desdenhei de seu poder e segui com meus planos e minha rota... Eu deveria ter recuado... Mas que bobagem pensar no que deveria fazer e não se fez, o momento agora é trabalhar com o que se tem.
Eu sentia que o frio aumentaria ao cair da tarde... Nada de minha embarcação veio comigo até a praia, minhas roupas molhadas... Preciso secá-las. Observo toda a calmaria ao redor, nenhuma semelhança com a borrasca que caíra a pouco. O mar está levemente agitado, mas já não grita em furor como antes...
Estendo minhas roupas na vegetação à beira-mar... Venta. Protejo-me encostada a uma grande rocha, em sua solidez ela resguarda o calor do sol que a banhou durante toda a manhã. Sinto-a. Preciso ter a sua firmeza para encontrar o rumo de casa. Onde estarei?
Este lugar me é familiar como quando se quer lembrar de um sonho, mas ele não vem à memória... É uma sensação vaga. Olho para aquela calma toda e parece-me que ela já fez parte de mim, um dia.
A Velhinha de Florença – Clássico (Cecília Meireles)
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Por que me lembraria agora daquela velhinha de Florença? Há sentimentos
antigos, dentro de nós, que não perdem a sua força, que não se deixam
aniquilar pel...