tag:blogger.com,1999:blog-90081370665840656792024-03-13T06:02:54.413-07:00ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEMDoze escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O resultado é um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual, recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.Fabio Shivahttp://www.blogger.com/profile/04887961224171280115noreply@blogger.comBlogger9125tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-37772120293267053782015-01-16T14:27:00.000-08:002015-01-16T14:27:41.604-08:00O caminho da Pena<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-9JUxzwbiU3Y/VLmPDqjRrMI/AAAAAAAAELc/WA5Kvq3fx9I/s1600/feather-pen-writing-letter-with-ink-bottle-HD-wallpapers.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-9JUxzwbiU3Y/VLmPDqjRrMI/AAAAAAAAELc/WA5Kvq3fx9I/s1600/feather-pen-writing-letter-with-ink-bottle-HD-wallpapers.jpg" height="225" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">por
Fabio Shiva<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Tem
sido muito boa a experiência de escrever sobre técnicas para aprimorar a
escrita. Como diz o ditado, “a melhor maneira de aprender é ensinar”. Mas à
medida que fui investigando esse tema, senti cada vez mais a necessidade de
falar sobre algo que vai além da técnica. Trata-se de algo mais essencial e até
mais vital ao processo literário, e também infinitamente mais sutil. É algo a
que só me ocorre chamar de <b>o caminho da
Pena</b>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Para
adentrar nesse terreno simbólico, é bom ter em mente o que se convencionou
chamar de <b>o caminho da Espada</b>. </span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Miyamoto_Musashi">Musashi</a></span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">, o mais célebre
samurai japonês, teve sua vida romanceada por Eiji Yoshikawa, em uma obra
magnífica que por si só já vale por uma dúzia de cursos sobre a arte de
escrever. Pois bem. O livro “Musashi” apresenta uma ideia a princípio
desconcertante para o olhar ocidental. Essa mesma ideia é delineada com ainda
mais nitidez no mangá “Vagabond”, de Takehiko Inoue, inspirado no livro de Yoshikawa.
E o próprio Musashi escreveu um livro, “Gorin No Sho” (O Livro dos Cinco Anéis),
onde essa ideia surge como uma filosofia de vida: é a noção de que a arte da
esgrima é sobretudo uma disciplina espiritual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Vencer
os adversários em duelo, ser hábil em cortar e perfurar corpos com a espada,
tornar-se um exímio ceifador de vidas, tudo isso pode ser encarado também como
etapas de um iniciado em sua jornada de evolução espiritual. E é isso, em
resumo, o que costuma ser chamado de caminho da Espada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Outras
boas referências para esse rico universo semântico são os filmes de Akira Kurosawa,
em especial “Ran” (adaptação do “Rei Lear” de Shakespeare para o Japão feudal)
e “Os Sete Samurais”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/AbbfDntoRRk?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Quando
li o livro de Eiji Yoshikawa pela primeira vez, fiquei tão entusiasmado que
escrevi uma letra de música sobre o tema:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">O
CAMINHO DA ESPADA*<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">No
caminho de muitas andanças<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Sob
um sol de beleza insondável<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Quem
já viu incontáveis matanças<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Está
preparado pro inevitável<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">O
terrível desígnio da sorte<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Encadeando
a corrente invisível<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Quem
domina aos outros é forte<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Quem
domina a si mesmo é o Invencível<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">No
que consiste a arte da esgrima?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Ter
em si mesmo o Adversário?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">No
verdadeiro Caminho<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">O
uso da Espada não é Necessário<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Aquele
que vive pela Espada<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Morrerá
por Ela<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">*
(Tempos depois essa letra foi totalmente reescrita e acabou virando a música </span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"><a href="http://youtu.be/0L0EYG2e-CI">Hino Humano</a></span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">.)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Um
dos maiores ganhos que tive nessa época foi perceber o quanto o modelo proposto
pelo caminho da Espada poderia somar em minha própria vida. E hoje sinto que
qualquer caminho pode ser o caminho da Espada: se você segue o chamado de seu
coração para se dedicar a um trabalho, seja ele qual for, e se entrega a esse
trabalho com todo o seu ser, inevitavelmente torna acessível um aprendizado e
uma visão mais ampla do mundo e de si mesmo que bem podem ser descritos como
uma “evolução espiritual”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">O
caminho da Pena, portanto, é aquele que leva a vivenciar, por meio da
literatura, uma compreensão mais alta de si e do mundo. E uma característica
muito própria desse caminhar é ser uma via de mão dupla, que pode ser trilhada
em dois sentidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">A
primeira via é a da leitura. Sabe aquele livro que mexeu com suas estruturas e
ajudou você a enxergar novos horizontes? Lembra daquele personagem apaixonante
no qual você se inspirou (consciente ou inconscientemente) para lidar com essa
ou aquela situação em sua vida? Quando vivenciamos momentos assim, estamos
trilhando o caminho da Pena pela via da leitura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">A
outra via é a da escrita. Não segue no sentido oposto ao da leitura, muito pelo
contrário. Está mais para uma via superposta, ou então uma que passa por dentro
da outra, por camadas mais profundas. A via da escrita poderia ter como lema o
velho ditado: “vou aprender a ler para ensinar meus camaradas”. Todo escritor
começa como um leitor que se apaixona por essa forma de expressão escrita e
então decide aprender a gerar no mundo, com seus escritos, o mesmo
maravilhamento que sentiu ao ler o que outros escreveram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Aprender
como se conta uma boa história não é pouca coisa. Mas na perspectiva do caminho
da Pena representa somente os passos iniciais de uma jornada bem mais longa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Para
o grande samurai, conhecer a técnica da esgrima não era suficiente. Era preciso
provar a sua força em inúmeros duelos reais. Trilhar o caminho da Espada
significava estar sempre pronto para matar ou morrer. Nesse ponto a Espada é
radicalmente prática, no sentido de que toda filosofia e toda religião, e até
mesmo toda arte, são tentativas de lidar com a questão da morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">De
modo semelhante, o escritor deve estar imbuído do mesmo espírito, se almeja tocar
o eterno com suas mãos de mortal. E assim mergulhar no mais íntimo de si mesmo,
até vislumbrar lá bem fundo, no âmago das sombras, algum lampejo intenso da
alma do mundo. E então travar o árduo embate das palavras, para expressar na
linguagem dos homens essa ideia universal, que brilha lá dentro de seu coração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Esse
é o chamado da literatura em sua conotação mais alta: é assim o caminho da
Pena. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Fabio Shivahttp://www.blogger.com/profile/04887961224171280115noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-47583885796142811122014-10-18T15:58:00.005-07:002014-10-21T11:50:49.748-07:00A vida é séria?Como é possível chegar à vida propriamente se os
entulhos dificultam enormemente a passagem e as mediações são como
pregas coladas ao corpo, que nem permitem a brisa embalar com seu
frescor?<br />
<br />
Parece que temos uma enorme responsabilidade que nos
penetra em todos os poros , fazendo com que tenhamos que planejar tudo ,
desdobramento inevitável para um acerto de medidas, ou seja, é
preciso com precisão, colocar tudo na régua, perguntar com insistência
se cabe, o quanto cabe ou não, enfim, uma mesura que regula os passos, evitando os buracos que carregamos a todo tempo.<br />
<br />
O temor a cair
tem passado tão discretamente como tema clínico, que sua única
manifestação sólida tem sido a depressão, lugar difícil, por excesso
de seriedade, onde a vida fica amuada, triste, emudecida, e onde o
sol fica tênue a olhos vistos.<br />
<br />
Mas o que a vida tem de tão séria ? O
que nos assusta tanto que contrapomos com a seriedade , como se por ela
tivéssemos melhor capacitados ao imprevisível?<br />
<a name='more'></a><br />
Nem sabemos
responder bem isso, pois se há aí valores há também perspectivas, como
Nietzsche aponta em sua genealogia , perspectivas sustentam valores e
vice-versa , que funcionam como doutrinas da “ Verdade “ , com a
incumbência de nos dizer como “ a vida deve ser “.<br />
<br />
É impossível a
partir daí não surgir um tipo de legislação que visam ao que o homem tem
de mais perigoso e cruel , velhos debates a respeito da natureza humana
, e que insistem em dizer que sem a cerca que delimita tudo é inviável.<br />
<br />
E aposta-se nisso por conta de uma moral , tema polêmico para
modernidade , na forma de uma regulação das ações , já que não é
possível pelas intenções , ou seja , desconfia-se do que não se vê , mas
que comparece por seus efeitos. <br />
<br />
Há suspeita , todo homem até
prova em contrário é suspeito , e mesmo não sabendo do que o acusamos ,
não nos esquecemos que o homem é perigoso pelo que é capaz . Nessa
projeção coletiva e sombria todo mundo está arrolado e não nos convém
abrir a guarda , ao risco, que vai do crime à decepção.<br />
<br />
É óbvio,
que a incidência disso na economia do convívio não se faz por esperar ,e
logo , a desconfiança é o lugar de plantão , aprimoramento dos
critérios de avaliação onde cada vez mais menos passam , e o sentimento
de solidão fará chorar pelo tédio, pelo excesso de apego ao que
restringe. <br />
<br />
Em um mundo que tomou gosto pelo aberto , todos os
fechamentos parecem sem sentido , e ao colocar em risco às premissas de
uma segurança herdeira da abolição do nomadismo , outra coisa não fez
senão fincar e defender , principalmente os seus, com seus devidos
monopólios .<br />
Ora , se viver é defender e desconfiar , a doença
coletiva será a seriedade , tida aqui como símbolo de eficiência perante
os perigos da vida e do convívio , cuja imagem recoloca o inimigo
constantemente na linha de frente pronto a subtrair ou acusar.<br />
<br />
Se a
vida é uma ato de dominação como dizem alguns , então , nos aparelhemos
, já que a pergunta central insone é “ quem vem lá ?... denotando que a
aproximação pode trazer em modos ocultos o inimigo camuflado , que será
a causa dos estragos irreparáveis , fracasso que será colocado na conta
da confiança ,e senha para mais desconfianças ferrenhas.<br />
<br />
Com um
quadro desse cada vez mais próximo da paranóia coletiva, a vida eleva
seu limiar de tensões e enrijece as mandíbulas e torna os rostos armados
pela falta de sorrisos e simpatias , que são sinais aproximativos
importantes para quem espera ser bem recebido.<br />
<br />
Histerias e
sonoridades avulsas desfazem o elo de atenção necessária ao contato ,
esse lugar onde os bons encontros a que se refere Spinoza , esses que
expandem a vida e trazem alegria, se cultivam como prazer de se estar
juntos , uma boa risada , uma bela gargalhada , enfim, uma prazer –filia
pelo outro existir e nos compartilhar.<br />
<br />
É dessa forma que se
estamos numa arena permanente , tudo nos exige o plantão , a sentinela
tensa, fábrica de inimigos onipresentes, que não permitem esquecimentos ,
lástima comum no campo do amor , onde a decepção já não é mais uma das
opções possíveis numa experiência tão complexa , mas um erro de cálculo ,
tipo “ como deixei isso acontecer “ , por muitas vezes corroborada por
analistas também paranóicos , que se dedicam a tarefa de buscar onde a
repetição burlou a cerca eletrocutada da segurança.<br />
<br />
Sem esse dispor
para as opções possíveis como viver no recalque da imprevisibilidade ?
Como aproveitar à diferença a favor de novas aquisições expansivas ?
Como podemos ir sem deixar ?<br />
Não por acaso a vida já não tem sido
vista como um laboratório para alegria dos possíveis , para os ganhos
diferenciais ou mesmo para consagração do movimento, enquanto um
devir-fora , um gosto inquietante de quem se dispõe a experimentar , mas
um falseamento de raízes que não fincam e nem reconhecem o que lhe
antecede , um tipo de suspensão onde a ansiedade traduz a agonia de
antecipar o que ainda não aconteceu.<br />
<br />
O que é divertir ? É
des-proibir o diverso como invasor , é a surpresa do atalho
não-combinado, é receber na sala mesmo o inusitado , o que entra sem
pedir licença , é a rendição de uma virilidade que mais defende do que
fertiliza , enfim , é esvaziar o excesso da seriedade, bem ali onde a
série entedia pela previsibilidade.<br />
<br />
Tudo precisa ser chancelado
pela seriedade como signo de competência e utilidade , embora convenha
não esquecer, que a seriedade hoje, é apreciada dentro de uma lógica de
resultados, tudo é sério porque tempo é dinheiro e/ou poder , tabús da
pós-modernidade , plantão dos ganhos e sequestro do prazer de contemplar
, palavra escassa e ociosa demais , onde tudo é negócio.<br />
<br />
Guardemos
o melhor para o fim de semana ,e autorizemos a Lacan nos dizer “ só os
neuróticos vivem do fim de semana “ , tempo condensado para todas
fantasias de liberdade , que em geral , se traduz por encontros nada
subversivos e diluídos nos goles que a boca encharca como território de
liberdade e como memória para os dias vindouros até o próximo fim de
semana , que é sempre fim nunca começo de nada.<br />
<br />
Rir é tudo , afora
os momentos dolorosos que o grosso da vida baixa como peso tirano a nos
derrubar , é rindo que se recebe , é sorrindo que se é perdoado e é
sorrindo que se vive a eterna despedida do que já não sorri em nós ,
senha de atração para precocidade do defunto que nos aguarda.Alexandre Bheringhttp://www.blogger.com/profile/07548277095474423035noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-32313490891363262042014-10-13T21:52:00.000-07:002014-10-14T21:06:58.441-07:00A ESTRUTURA DO ROMANCE – Edwin Muir<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-GQmfPcZJbvw/VDyp2y4MJJI/AAAAAAAAEAg/Ti8vTM-EyRQ/s1600/A_ESTRUTURA_DO_ROMANCE_1253462880P.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-GQmfPcZJbvw/VDyp2y4MJJI/AAAAAAAAEAg/Ti8vTM-EyRQ/s1600/A_ESTRUTURA_DO_ROMANCE_1253462880P.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Há muito tempo eu tinha vontade de ler algo sobre crítica e análise literária. E graças à generosidade de uma amiga, que me presenteou com esse livro, pude saciar esse desejo!</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Achei a leitura muito interessante, me ajudou a captar um pouco desse “olhar literário” que eu queria descobrir. Vou colocar aqui bem resumidinho as principais coisas que aprendi.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
O autor formula um sistema teórico que pode não ser o definitivo, mas é bem válido. Ele percebe os romances como estruturados principalmente em função do tempo ou do espaço.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<a name='more'></a><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Na primeira categoria está o chamado “romance dramático”, que gira em torno de alguma modificação que ocorre com os personagens, daí o fator tempo ser fundamental. Fiquei com vontade de ler “O Morro dos Ventos Uivantes” de tanto que foi louvado como belo exemplo de romance dramático.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Na segunda categoria está o “romance de personagem”, que distribui uma sequência de cenas mais no espaço que no tempo, pois os personagens praticamente não sofrem alterações no decorrer da história. Os livros de Dickens foram muito citados nessa categoria e também o “Vanity Fair” de Thackeray.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Uma outra forma de estruturar o romance através do tempo é chamada pelo autor de “crônica”, o que tem e não tem a ver com o conceito que comumente fazemos de uma crônica. Aqui o tempo é uma força impessoal, e não um coadjuvante dramático. Exemplo: “Guerra e Paz” do Tolstoi.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Outras formas de estrutura são citadas: o “romance epocal” que Edwin Muir corretamente profetiza que está para desaparecer, pois nenhum dos livros citados nessa categoria me pareceu familiar (o livro é de 1928). Essa categoria baseia-se mais numa descrição acurada de um evento que marca uma época (tal como a invenção do automóvel) que numa história em si.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Muito interessante foi a interpretação que Muir fez de “Em Busca do Tempo Perdido” de Proust e do “Ulisses” de James Joyce, cada um sendo o único representante de sua categoria própria. Sobretudo por ter começado a ler “Ulisses” agora, gostei muito. Na descrição de Muir (em que vi ecos do grande fã de Joyce, Anthony Burgess), “Ulisses” é um fracasso genial!!! Como disse Burgess, somente os grandes têm falhas interessantes...</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Valeu muito a pena ler esse livro!!! Recomendo a todos que desejem aprofundar suas leituras e também, por que não, seus escritos.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-X5q3Zu07R9E/VDyp3DTxI7I/AAAAAAAAEAk/5-HIPjeEa_o/s1600/mw48089.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-X5q3Zu07R9E/VDyp3DTxI7I/AAAAAAAAEAk/5-HIPjeEa_o/s1600/mw48089.jpg" height="320" width="221" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Edwin Muir</div>
Fabio Shivahttp://www.blogger.com/profile/04887961224171280115noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-8241045131204178362014-10-13T02:40:00.001-07:002014-10-18T15:58:08.647-07:00Recortes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-5BEI-2WctuM/VDvpoxX21NI/AAAAAAAAD_8/yM8k3tkGD24/s1600/unconsciousness.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-5BEI-2WctuM/VDvpoxX21NI/AAAAAAAAD_8/yM8k3tkGD24/s1600/unconsciousness.jpg" height="400" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Recortar é se incomodar. É um modo de sublinhar, como a dar
relevância ou interrupção de sequência, caso em que se instaura um outro
cenário a ser explorado. Como relevância é uma maior proximidade do olhar, um
desejo de penetração mais apurado, um apelo significativo à memória como
fixação, um alerta contra o esquecimento e um compromisso com o depois, sinal
de que, se não for assim, algo se perderá. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Há aí uma tensão contra o tempo que apaga, uma competição na
agenda da memória e uma requisição com aura de inadiável, que faz com que a
mobilização suba o limiar usual da atenção, para que o destaque brilhe de forma
diferencial. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<a name='more'></a><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">É essa diferença a própria razão do recorte, pois viu-se ali uma
diferença, um a mais ou a menos, uma equação algébrica de contornos atraentes
que ao capturar o olhar abriu a conta, e alguma coisa indiscernível começou
então a ser contada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">O destaque então, como o que se sublinha, demanda talvez o sublime,
a sublimação, ou nada disso e apenas uma provocação contra miopia linear, caso
em que estabelece um contraste para maior vivacidade, já que a leitura é um
jogo contínuo de contrastes e promessas inacabadas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Já como interrupção de sequência, é um gesto mais ousado, pois
decide-se por uma quebra com indicação de novo endereço, uma nova prosa, um
reverso qualquer onde instaura-se um desacordo, de preferência fértil, e ao
mesmo tempo compromete aquele que decide com sua decisão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">É assim que de um texto nasce outro, outros, multiplicidades
criativas (de preferência), onde a abertura é forçada nem tanto pelo formato ou
pela intenção de contracenar do autor, mas pelas sublinhas presentes no texto,
aqueles lugares nem tão oficializados pela escrita, mas que têm o poder de
veicular sulcos ou entranhas, tipo ruelas nem sempre significativas, mas que, de
repente, se tornam cenário pra quem lê. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Essa magia deliciosa de oferecer endereços não catalogados é a
sedução, o fascínio que a escrita exerce sobre o autor, já que, nesse caso ou
acaso, nem ele o autor é autor e nem o leitor pode ser o mesmo, já que, alterado
pela captura, tem que viajar, se inserindo também como autor de uma viagem que
acabou de sair do forno. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Delineia-se um tipo de vinculação por afinidades simpáticas ou
antipáticas, onde a ressonância se amplia, como um elo que liga mentes e
corações num campo que tem todo um cunho compartilhado, uma força de afetação
coletiva, mas que ao mesmo tempo é singular, única. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Um tipo de intercessão onde a história do humano se reconhece em
seus signos e contornos, o que nos permite pensar que para cada escrita haverá
um leitor, mesmo que seja pra vaiar, nos dando o lugar do outro no imaginário,
um outro virtual que fará viver a escrita, mas que ao mesmo tempo devolverá
alguma indicação singular de sua leitura. Obviamente podemos pensar que, quando
um leitor lê, toda a nação lê junto, tanto no que a formação do cidadão permite
alcançar quanto no que deixa escapar, um livro subjacente que revela suas
passagens e estéticas culturais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Mas o ato de recortar é antes de tudo um apelo singular, já que
alinhou o interesse, atiçou a demanda, marcando então a entrada num mundo
ordenado e inédito para o autor; da mesma forma, faz com que o leitor se
atrite com o autor, seja para exaltá-lo na conta de um dito valioso ou para no
desacordo instaurar uma nova série que poderá ou não ser explicitada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Se a leitura é da ordem primária do solilóquio, onde o leitor é seu
próprio leitor, onde quem fala é também quem escuta, então a beleza disso é que
aí não há diálogo, já que é um espaço privativo, longe das regras da civilidade
ou obrigações com suas regras de bem viver. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Não, o lugar é antropofágico, pois exige certa truculência, certo
embate, onde a digestão precisa vender caro o que vai ser engolido, afinal, todo
texto é invasor, quer captura, mesmo que negue isso, nada aqui é democrático ou, por representação, igualitário. Nesse sentido, escrever é um além ou aquém de
sistemas de representação ou contratos coletivos, já que o sequestro não
suporta combinações prévias, não é um teatro previsível, mas uma gana que não
está interessada no que pode ser óbvio, pelo contrário, é a criação ainda inexistente que habitará o interesse. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Eis um dito de Deleuze, o filósofo francês: “Escreve-se para dar a
vida, para libertar a vida lá onde ela está aprisionada, para traçar linhas de
fuga. Para isso, é preciso que a linguagem não seja um sistema homogêneo, mas
um desequilíbrio, sempre heterogêneo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Observação que indica que escrever é romper com a civilidade
homogeneizante onde ela se traduz como acordo que deixa a vida de fora, e nesse
sentido escrever é uma insubmissão à coletividade prévia, ou, se quiserem, é um
desejo de inventar uma outra humanidade a partir do texto, ficção inconfessada posta
na conta da megalomania. Mas cabe a pergunta: quem pode escrever se não
suportar sua megalomania? Não é justamente a megalomania o primeiro recorte a
ser feito, não é ela que sublinha uma pretensão? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Ao escrever o autor se eleva enquanto alter ego de sua repressão,
é a liberdade de penetrar o outro sem ter que pagar pelo crime, entra-se
sutilmente como quem não quer nada querendo tudo, supostamente uma invasão
consentida, cúmplice, senha inocente para um coito perigoso de apropriação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Ao recortar já se estabelece o ato como alteridade, como diferença,
um viés qualquer, onde surge uma outra possibilidade, uma nova alternativa não
pensada até então, e de forma bela ao se diferenciar do autor com a primazia de
seu texto, o leitor se diferencia de si mesmo, fazendo um contraponto que lhe
exige reflexão e dedicação, pois se for para vingar é preciso fazer durar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Encontra-se então uma linguagem para se dizer o que “ estava na
sombra das palavras” diz novamente Deleuze,e que acréscimo poderia ser mais
interessante para quem escreve, se não for sua oferta de dar linguagem aos que
precisam? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-PT0TDk7qJpA/VDvpxstxrMI/AAAAAAAAEAE/FQ_nnKtFkBI/s1600/redmand.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-PT0TDk7qJpA/VDvpxstxrMI/AAAAAAAAEAE/FQ_nnKtFkBI/s1600/redmand.gif" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Observando-se que dar linguagem só é possível ao acaso não por
intenção prévia, oferece-se e espera-se, pois os elos virão dos encontros
potencialmente desejosos de acontecer, o que faz do autor um tipo de parteira
desinteressada em precipitações, ao mesmo tempo que torce para que o filho
nasça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">O tempo nesse caso é que recorta a espacialidade, pois é um tempo
do desejo não cronologizado, tempo do acontecimento não do fato, como diz nosso
filósofo anterior, pois o acontecimento recusa o fato, lhe ultrapassando é algo
por ser dizer e não o dito no fechamento do fato. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">É assim que o acontecimento é um recorte no fato, não como um
sublinhar, mas como ruptura que destaca, que exalta, que recusa o bom senso
doméstico sempre pronto a apaziguar, ou ainda “ entre uma principal e uma
subordinada deve haver uma tensão, uma espécie de zigue-zague, mesmo e
sobretudo quando a frase tem um aspecto perfeitamente correto, afirma o
filósofo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">E veja-se aqui o quanto se faz necessário desconfiar da ordem,
pois não se escreve para corroborar simplesmente, o que se busca é a borda,a
franja, que na tensão do limiar produz atrito, fazendo com que palavras ou frases
imponham seu destaque, seu recorte, pois indicam o que falta, justo o que faz a
diferença pura, não por comparação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">E se quisermos um pouco mais, convém destacar que o recorte é uma
traição à percepção, pois eleva a tensão usual das comodidades e exige mais do
leitor, exige que se apresente para dizer do pathos, sua afecção, que lhe
obriga a buscar, a sair do solilóquio privativo para uma exposição que lhe
denuncia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Garamond, serif; font-size: 13.5pt;">Nesse sentido a Arte como a Filosofia não é uma discussão, uma
doxa opinativa, mas um tipo de afirmação onde o trabalho é transformar o pathos
em estilo, a dor em acontecimento, a alegria em potência de vida,a
partenogênese socrática só que sem maiêutica, mas pelo incômodo da surpresa, a
posição do surpreendido, que uma vez denunciado não pode mais continuar o mesmo.<o:p></o:p></span></div>
Alexandre Bheringhttp://www.blogger.com/profile/07548277095474423035noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-38667937227490899012014-10-09T21:27:00.000-07:002014-10-09T21:29:13.070-07:00O tempo do sim - Anorkinda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-fkJD6B3wfV4/VDdfORWuPzI/AAAAAAAAGmA/DRBc-PAa3rs/s1600/o%2Btempo%2Bdo%2Bsim.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-fkJD6B3wfV4/VDdfORWuPzI/AAAAAAAAGmA/DRBc-PAa3rs/s1600/o%2Btempo%2Bdo%2Bsim.gif" height="320" width="282" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
O TEMPO DO SIM</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Porque chegaste tempo... sempre misterioso, efêmero, passageiro. Enigma.</div>
<div style="text-align: center;">
Chegaste tempo do sim... sempre dadivoso, abundante, hospedeiro. Benigno. </div>
<div style="text-align: center;">
Porque chegaste, sim... chegaste com o vento da mudança, com o sol da temperança. Digno.</div>
<div style="text-align: center;">
Chegaste, sim... chegaste... com a mão estendida, com a vida refeita. Paradigma.</div>
<div style="text-align: center;">
Porque chegaste pra querer o mais belo... pra vigorar como o broto singelo daquela flor do amor... Estigma</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Anorkinda</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
.<br />
<br />Anorkindahttp://www.blogger.com/profile/11802905488912706817noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-82473049890775444832014-10-03T11:24:00.000-07:002014-10-04T07:13:02.342-07:00Reflexões sobre a cegueira<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: small;">Atenção: contém informações que alguns leitores podem considerar como <i>spoilers</i>.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-h8iZDNAIRO0/TaygZnS0oII/AAAAAAAAAYk/bZDPk2PM4GU/s1600/capa+jose+saramago.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-h8iZDNAIRO0/TaygZnS0oII/AAAAAAAAAYk/bZDPk2PM4GU/s320/capa+jose+saramago.jpg" height="320" width="202" /></a>A cegueira causada pela ausência de "percepção filosófica" está arraigada no cotidiano terreno de todos os membros ditos normais da sociedade, tendo sido isso muito bem demonstrado em <i>Ensaio sobre a Cegueira</i>. O texto do livro compõe uma espécie de parábola, que, como convém a esse tipo de literatura, é dissertado através de metáforas e simbolismos.<br />
<br />
É interessante observar que parte da sinopse da estória de Saramago pode ser vista como um dos aspectos da evolução cultural de uma sociedade. Então, vejamos: um homem é acometido por uma luz inexplicável que obstrui sua visão. A cegueira radiante passa a contagiar os que miram seu olhar, fazendo
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-ryzotGPQ3gw/Ta3HvNrBkjI/AAAAAAAAAZU/6I8LxFMBAYc/s1600/saramago-imitadores.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-ryzotGPQ3gw/Ta3HvNrBkjI/AAAAAAAAAZU/6I8LxFMBAYc/s320/saramago-imitadores.jpg" height="164" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #660000;">Seres humanos: imitadores cegos do que dita a cultura?</span></td></tr>
</tbody></table>
cada contaminado adquirir igual poder. Em pouco tempo, todos estão cegos pela mesma treva branca, sendo obrigados a agir, ainda que a contragosto, de acordo com as limitações impostas por ela. Essa síntese pode ser facilmente associada à seguinte: um grupo primitivo entrega-se a costumes e ritos cegos, que suprem a angústia ocasionada pela ignorância. A cegueira providencial rapidamente se consolida entre todos os membros, perpetuando-se na forma de tradições coercitivas. Desta forma, o senso coletivo e irracional impede o desenvolvimento do pensamento. Tem-se aí a cegueira de caráter mais amplo, a cultural.
<a name='more'></a><br /><br />
<div style="text-align: right;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-M3gVSLq-5Tc/TaydG8m03tI/AAAAAAAAAYY/PYHel6JUb4s/s1600/saramago-o+autor.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-M3gVSLq-5Tc/TaydG8m03tI/AAAAAAAAAYY/PYHel6JUb4s/s1600/saramago-o+autor.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #660000;">Sob que prisma você enxerga as palavras do escritor?</span></td></tr>
</tbody></table>
Dentro desta, podemos identificar diversas outras, sendo a mais preponderante a do sentimento religioso. E esse é um dos prismas em que é possível transpor os personagens da fantasia para encarná-los em entes reais. Lembremos, de antemão, dos protagonistas: afora o primeiro cego e sua mulher, temos ainda o oftalmologista e sua mulher, o ladrão de carros, a prostituta, o menino estrábico e o velho da venda. Na estória, o primeiro cego, privado da visão, procurou o médico, sacerdote no assunto. Mas a doutrina contra a cegueira, além de mostrar-se incapaz de solucionar o caso, também não serviu para proteger um de seus próprios representantes. Por sua vez, os outros frequentadores do templo do sacerdote, dito consultório, já eram acometidos de desvios na visão antes da treva branca se manifestar.
<br />
<div style="text-align: left;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-AHW5hn7Rkac/Tazp9L6-BjI/AAAAAAAAAYo/uErwMgLJoDg/s1600/saramago-religiao.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-AHW5hn7Rkac/Tazp9L6-BjI/AAAAAAAAAYo/uErwMgLJoDg/s1600/saramago-religiao.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;">Religião X ateísmo: o livro traz implícita a discussão?</span></td></tr>
</tbody></table>
E o lugar em que deveria se processar a cura acabou se tornando palco de contágio de cegueira maior. Pergunta-se: podemos entender, através dessa colocação, que Saramago considera as religiões e suas instituições como fontes de cegueira? E um detalhe desnecessário para a estória levanta um questionamento ainda mais profundo: por que o autor colocou, como pacientes do oftalmologista, somente pessoas, de uma forma ou de outra, repugnantes? Temos uma mulher que vende o corpo, além de um menino e um velho, ambos de má aparência. Seriam os fiéis cegos e repugnantes?
<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="color: #660000; float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-XFLngyk2zRY/TaztHAYNy-I/AAAAAAAAAYs/EJ5ItQrgiPo/s1600/saramago-a+messias.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-XFLngyk2zRY/TaztHAYNy-I/AAAAAAAAAYs/EJ5ItQrgiPo/s200/saramago-a+messias.jpg" height="132" width="200" /></a></td></tr>
<tr style="color: #660000;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma messias racional? (1)</td></tr>
</tbody></table>
Ainda na mesma questão, vemos que justamente os proscritos mencionados acima, talvez por serem os mais necessitados de razão, foram abençoados com a presença de uma dotada de visão para guiá-los. A mulher do médico, bastião da sanidade e do caráter, teria sido, então, a representação de uma espécie de messias. Somente ela foi capaz de ver o caos e a imundície gerados pela cegueira. Somente ela pôde provocar o fim das injustiças advindas da camarata dos bandidos. E somente ela teve a coragem de sacrificar integralmente seu bem-estar e sua dignidade pela coletividade.
<br />
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-Z2zFIQjX5GU/Ta8b129sdjI/AAAAAAAAAZg/SiOxOTxeLLk/s1600/saramago-hipocrisia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-Z2zFIQjX5GU/Ta8b129sdjI/AAAAAAAAAZg/SiOxOTxeLLk/s1600/saramago-hipocrisia.jpg" height="131" width="320" /></a></td></tr>
<tr align="left"><td class="tr-caption"> <span style="color: #660000;">Saramago: alusões subliminares... (2) ...à hipocrisia social? (3)</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
Certos valores sólidos de nossa cultura também podem ser investigados em fragmentos do texto de Saramago. Um que pode ser citado é a exagerada estima que a sociedade cristã (e Portugal é um grande expoente desta) confere à vida em qualquer circunstância. Alguns livres-pensadores apenas a consideram aceitável enquanto gozada na plenitude, pois não parece razoável a preservação de fiapos de existência, como ocorre com os doentes terminais. No trecho em que o ladrão de carros, já com a perna totalmente infeccionada, resolve buscar ajuda junto aos soldados, ele crê que sua penosa situação despertará sentimentos nobres nos guardiães. Pois foi sumariamente fuzilado. Nessa passagem, observam-se duas
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-NCiBBw9R8JE/Taz43_h2WlI/AAAAAAAAAY0/3863X3BRKa8/s1600/saramago-solidao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-NCiBBw9R8JE/Taz43_h2WlI/AAAAAAAAAY0/3863X3BRKa8/s1600/saramago-solidao.jpg" /></a></td></tr>
<tr style="color: #660000;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A solidão de quem enxerga em um mundo de cegos (4)</td></tr>
</tbody></table>
particularidades: uma vinculada à hipocrisia da sociedade e outra à cegueira do doente. Com relação ao primeiro caso, é patente que o supremo apreço pela vida alheia se extinguiu no momento em que ela representou um suposto risco, mesmo que não intencional, à integridade da sociedade que positivou na lei a garantia por sua preservação a todo custo. Com relação ao segundo caso, é impressionante constatar a cegueira do doente para a inevitabilidade da extinção da vida. Por mais iminente que se apresente o fim, sempre nutre-se uma esperança de que ele não chegará, e que uma solução mágica surgirá para interromper sua inevitável ação. E, na estória, esse posicionamento foi a tônica.
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-taUmTC0Jz5M/Taz9dYKPoLI/AAAAAAAAAY8/LN1soT7pA1s/s1600/saramago-quadro+inferno.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-taUmTC0Jz5M/Taz9dYKPoLI/AAAAAAAAAY8/LN1soT7pA1s/s1600/saramago-quadro+inferno.jpg" /></a></td></tr>
<tr style="color: #660000;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O inferno do homem nasceria de sua própria cegueira? (5)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span id="goog_985849178"></span><span id="goog_985849179"></span>Nos trechos seguintes ao que é incendiado o manicômio, prisão inclemente segundo o sentimento dos doentes, percebe-se que o mundo externo dominado pela treva branca havia se tornado igualmente insuportável, apesar das prerrogativas de conforto proporcionadas pelo uso de apartamentos particulares. Vê-se que a verdadeira causa das mazelas não era, então, o local onde estavam enfurnados, mas a falta de visão.<br />
<br />
Com relação ao caráter humano, pode-se dizer que este é um fator agravante da cegueira. E Saramago não parece muito convicto quanto a sua lisura. Em divagação que se inicia na página 25 e se estende até as três primeiras linhas da 27, o autor
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-KDoFIRVWOqo/Ta2xvO-QdFI/AAAAAAAAAZE/s21PkNqJSGU/s1600/saramago-corrupcao.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-KDoFIRVWOqo/Ta2xvO-QdFI/AAAAAAAAAZE/s21PkNqJSGU/s200/saramago-corrupcao.jpg" height="127" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #660000;">Ausência de caráter: treva total?</span></td></tr>
</tbody></table>
confronta sugestões, entre as quais a de que o caráter possa ser moldado pelas circunstâncias e de que a manifestação da
consciência em prevaricadores simplórios possa ocorrer, em parte, devido ao temor. Mas demonstra descrédito contundente ao admitir que, mesmo em uma coletividade de desvalidos, o mal tem energia para germinar, tendo sido isso retratado na ação da quadrilha de bandidos cegos no manicômio.
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-okM1cVf_dM4/Ta27tLTJiRI/AAAAAAAAAZI/l-vOlPoPAZE/s1600/saramago-descoberta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-okM1cVf_dM4/Ta27tLTJiRI/AAAAAAAAAZI/l-vOlPoPAZE/s320/saramago-descoberta.jpg" height="152" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #660000;">Descobrir-se cego para aprender a enxergar</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
O livro <i>Ensaio sobre a Cegueira</i>, por se tratar de uma narração alegórica, permite tantas interpretações quanto o número de leitores que venha a ter. E cada detalhe da estória - tal como o encarceramento dos suspeitos de contágio, a sequência de ações das autoridades, a prostituição forçada das mulheres no manicômio, a solidão da velha que comia carne crua - pode ser encarado como uma intenção do autor em transmitir uma mensagem. Deste modo, conclui-se que uma parábola não tem o poder de extinguir a cegueira - já que o conteúdo desse tipo de texto pode ser adequado a idéias preestabelecidas - mas possui o dom de deixar seus portadores cientes de que ela existe. E é tal entendimento que despertará o desejo pela busca da visão.
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<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">(1) e (4) - Cenas do filme <i>Blindness</i> (<i>Ensaio sobre a Cegueira</i>), dirigido por Fernando Meirelles (Fox Filmes). Elenco: </span><span style="font-size: small;">Julianne Moore, Danny Glover, Alice Braga, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Don McKellar, Maury Chaykin, Martha Burns.</span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">(2) - Protesto durante o julgamento do caso Terri Schiavo.</span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">Imagem: <b><a href="http://dawn.thot.net/terri_schiavo.html">http://dawn.thot.net/terri_schiavo.html</a></b>.</span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">(3) - Imagem: <b><a href="http://direitoevida-czs.blogspot.com/2010/09/eutanasia.html">http://direitoevida-czs.blogspot.com/2010/09/eutanasia.html</a></b>. </span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="color: #660000; font-family: inherit;">
<span style="font-size: small;">(5) - <span class="interna-txt"></span><span class="interna-txt"><i>Dante e Virgílio no Inferno</i> (1822)</span></span><span style="font-size: small;"><span class="interna-txt">, quadro de Delacroix</span><span class="interna-txt"></span></span><span style="font-size: small;"><span class="interna-txt">.</span></span></div>Sergio Carmachhttp://www.blogger.com/profile/12773335937806036712noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-36298578534381250572014-10-02T16:56:00.000-07:002014-10-03T19:51:13.695-07:00A Vida e Morte de um Amante de Livros – Ben OliveiraSuas mãos coçavam com a vontade de segurar aqueles livros. Precisava ler todos. Desejava possuí-los. Gastava o dinheiro que lhe faria falta. Preferia ficar sem comer a ter que abrir mão do seu vício.<br />
<br />
O corpo inteiro tremia de excitação só de imaginar qual seria a sensação de tê-los na sua estante. Não gostava de organizá-los em ordem alfabética, cores, tamanhos, gêneros – nada disso, gostava de como eles contrastavam e ao mesmo tempo ficavam tão bem juntos. Sentia-se realizado ao observá-los.<br />
<br />
Livros. Adorava livros. Modernos, antigos, usados, novos, pequenos, grandes, densos, literários, técnicos. Havia algo mágico neles que o fazia sentir tanta vontade de continuar lendo e lendo, como quando você está comendo um prato tão gostoso que não consegue parar até que não reste nada e quando termina a refeição, gostaria de mais e mais. Antes mesmo de terminar uma leitura, já estava de olho em outro livro. Nostalgia e alívio se misturavam dentro dele e quando segurava sua próxima vítima, era possível ouvir o seu coração batendo com força, um sorriso cheio de vida se formando no rosto e o processo recomeçava. Tudo igual e tudo diferente.<br />
<br />
A sensação era única demais para conseguir descrever com clareza. Nem mesmo suas companheiras letras podiam ajudá-lo. Era como nascer, viver, viajar, experimentar, conhecer, morrer, diversas vezes, em um loop infinito.<br />
<a name='more'></a><br />
Sua apreciação era tanta que desejava aprender a dar a vida para as suas próprias histórias e vê-las de mãos em mãos, línguas, ouvidos, olhos, cabeças. Não via sentido em uma existência sem aquele objeto tão venerado e não entendia como as outras pessoas não eram loucas por livros, como ele. Se pudesse, ficaria lendo sem parar, não pararia para comer, dormir, tomar banho, escovar os dentes. Sua obsessão não tinha limites. Algum dia enlouqueceria de tanto ler, era o que costumavam dizer, como uma previsão tão óbvia quanto dizer que ele morreria um dia.<br />
<br />
A fonte de loucura também era onde encontrava sanidade, equilíbrio, paz. Dentro da livraria ele recomeçava sua caçada. Por mais que sua vontade fosse a de levar todos os livros para casa e se deliciar com cada uma daquelas histórias, faltava-lhe tempo, saúde e dinheiro para isto. A cada dia que passava sua vontade aumentava e a dor também. Gostaria de viver dentro daquelas páginas para sempre.<br />
<br />
Quando completou 96 anos, suas vontades foram atendidas. Deitou-se em uma caixa enorme, cercado pelos seus livros favoritos. Soterrado pelas narrativas, ele mal conseguia respirar com tantas palavras. Fechou os olhos. Tornou-se uma página de um livro que nunca teria a chance de ler.<br />
<br />
<b>*Ben Oliveira</b>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-2701429024413463672014-09-30T11:41:00.000-07:002014-10-03T19:52:41.027-07:00Pra quando eu voltar - AnorkindaEra uma tarde fria que se estendia lânguida pela paisagem tranquila... Instabilidade, tensão e uma quentura nauseante apenas a meu interior perturbava. Acabara de naufragar, eu que tão habituada estava a navegar sozinha por estas águas... Mas a tormenta hoje fora implacável!<br />
Há alguns dias eu observava o céu e sabia que ela viria forte, porém desdenhei de seu poder e segui com meus planos e minha rota... Eu deveria ter recuado... Mas que bobagem pensar no que deveria fazer e não se fez, o momento agora é trabalhar com o que se tem.<br />
<br />
Eu sentia que o frio aumentaria ao cair da tarde... Nada de minha embarcação veio comigo até a praia, minhas roupas molhadas... Preciso secá-las. Observo toda a calmaria ao redor, nenhuma semelhança com a borrasca que caíra a pouco. O mar está levemente agitado, mas já não grita em furor como antes...<br />
<br />
Estendo minhas roupas na vegetação à beira-mar... Venta. Protejo-me encostada a uma grande rocha, em sua solidez ela resguarda o calor do sol que a banhou durante toda a manhã. Sinto-a. Preciso ter a sua firmeza para encontrar o rumo de casa. Onde estarei?<br />
<br />
Este lugar me é familiar como quando se quer lembrar de um sonho, mas ele não vem à memória... É uma sensação vaga. Olho para aquela calma toda e parece-me que ela já fez parte de mim, um dia.<br />
<a name='more'></a><br />
Visto-me e procuro por um abrigo para passar a noite. Não vou adentrar-me na ilha, encontro logo perto da grande rocha uma árvore com um oco ótimo... Sento e espero a noite chegar e espantar dele uma coruja, moradora por direito e natureza.<br />
<br />
Penso em minhas possibilidades, não posso esperar por ajuda náutica... Ninguém é responsável por ninguém nas águas deste oceano imenso, ninguém perceberá meu naufrágio. Precisarei alcançar minha própria salvação!<br />
<br />
<br />
Quando amanhece estou nauseada de fome e por não ter dormido quase nada naquela desconfortável toca de coruja. Procuro frutas silvestres... Eu, como todos de minha aldeia, sei sobreviver sozinha em lugar inóspito.<br />
<br />
<br />
Separo alguns gravetos para secarem ao sol, farei uma fogueirinha para o almoço mais tarde. Olho para a pequena floresta que se segue ao interior da ilha, não é densa, é ensolarada e muitos pássaros cantam esta hora da manhã... Cantos combinados, parece uma sinfonia alegre, alguns deles passam rasantes em direção a areia da praia.<br />
<br />
Não tenho tempo para devanear mas esta cantoria e estes pássaros cavoucando a praia me parecem tão familiares...<br />
<br />
<br />
Começo a trilha ilha adentro, preciso planejar uma maneira de escapar-me daqui e voltar a minha vida rotineira pelos mares da região. Um animal me fez parar, olhava-me tão atentamente, também ele parou. Sua refeição ficara estagnada em meio a boca... Parecia que ele me reconhecia, se eu lesse pensamentos, diria que ele pensou: Oh! Há quanto tempo! Era um cervo. Grande, bonito, lustroso, com uma imponente<br />
galhada.<br />
<br />
Me veio um flash à mente de um filhotinho de cervo, dengoso, amigo, de olhar atento... Não sei o que são estas sensações todas, sigo pela trilha, o cervo começa a acompanhar-me. Presto mais atenção a ele do que ao caminho ou às ideias que preciso ter para voltar pra casa.<br />
<br />
Quando percebo entrei numa pequena clareira, perfeitamente circular há matos e trepadeiras crescidas, mas vê-se que um dia aquele espaço fora cuidado por mãos humanas. E no centro dela, uma pequena casa... Senti-me sem pensamentos, um arrepio perpassou-me o corpo, o cervo seguiu até a casinha e parou cheirando uma porta escondida pelas plantas.<br />
<br />
Mas eu simplesmente não podia ir até lá... Minhas pernas não moviam-se. Sentei ali mesmo temendo desmaiar. Olhei a volta e comecei a nomear as árvores ali existentes. Ali uma macieira de frutos bem cheirosos, aquela outra é um pessegueiro com suas lindas flores... aquela outra... Como eu sei delas? Fecho os olhos. Revejo minha vida, sempre singrando, compartilhando com meus amigos da aldeia das pescas, das aventuras, dos mistérios do mar. Como posso saber das coisas desta ilha?<br />
<br />
<br />
Olho a posição do sol, já seria hora de voltar a praia e preparar algum almoço. Mas não estou disposta a abandonar esta clareira, sem decifrar todas estas sensações estranhas. Levanto-me e vou até a porta da pequena casa, o cervo está alimentando-se por perto. Quebro vários galhos de uma trepadeira que reconheço ser plantada por alguém, não é nativa. Abro a porta sem dificuldade... Meus olhos deparam-se com um sonho!<br />
<br />
Reconheço extamente tudo o que há ali e misteriosamente os móveis não estão estragados ou mesmo empoeirados. Está tudo razoavelmente limpo, se não fosse o mato crescido impedindo a entrada e a abertura das janelas, eu diria que alguém vinha limpar aquela casa de vez em quando.<br />
<br />
Revisto tudo, tudo, tudo... Conheço tudo o que há ali! Mesa, cadeira, armários, a um canto, duas camas... Em cima do travesseiro vejo uma carta. Em papel bonito, feminino, a letra infantil mas delicada, de menina, penso eu.<br />
<br />
"Para quando eu voltar...<br />
<br />
Esta minha casa querida onde vivi desde que nasci, vai ficar me esperando, meu amigo pequeno cervo vai ficar me esperando, minhas árvores preferidas também. Minha mãezinha diz que vou esquecer daqui, porque vou conhecer muita coisa bonita lá fora, mas eu não vou e quando eu voltar tudo estará aqui para mim.<br />
<br />
Eu não quero esquecer de ser feliz!"<br />
<br />
Atiro-me à cama que agora lembro que era de minha mãezinha... Lembro perfeitamente de quando ela disse que todas as pessoas esquecem-se completamente da felicidade de ser criança. Não mamãe... Eu não esquecerei novamente!<br />
<br />
Levanto e corro a abrir as janelas pelo lado de fora, arrancando os excessos das trepadeiras... Estou de volta e daqui, do meu lugar, eu poderei lançar-me a novos desafios e navegar pelos antigos também, por que não? Agora sei que todas as soluções me encontrarão assim como eu encontrei-me...<br />
<br />
Anorkinda<br />
<br />Anorkindahttp://www.blogger.com/profile/11802905488912706817noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9008137066584065679.post-73155196704192704802014-09-28T17:34:00.003-07:002014-10-15T19:22:05.653-07:00ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-lk_chgGsVu0/VCipEsgbKGI/AAAAAAAAD90/TA4IsybmzD0/s1600/__fotis__LOGO.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-lk_chgGsVu0/VCipEsgbKGI/AAAAAAAAD90/TA4IsybmzD0/s1600/__fotis__LOGO.jpg" height="200" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o leitor a
participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os autores
os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual, recomendada a
todos os que amam o mundo dos livros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Um
lançamento da Caligo Editora, previsto para o primeiro semestre de 2015.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a name='more'></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Autores:</span></b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<br /><ol>
<li>Alexandre Bhering </li>
<li>Anorkinda Neide </li>
<li>Ben Oliveira </li>
<li>Fabio Shiva (org.) </li>
<li>Fernando de Abreu Barreto </li>
<li>Gustavo Araujo </li>
<li>Ivan de Almeida </li>
<li>Maurem Kayna </li>
<li>Mogg Mester </li>
<li>Ricardo Bellissimo </li>
<li>Sergio Carmach </li>
<li>Simone Marques</li>
</ol>
<div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Editora:</span></b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Bia Machado <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Tratamento de imagens:</span></b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12.0pt;">Fabíola Campos</span></div>
</div>
Fabio Shivahttp://www.blogger.com/profile/04887961224171280115noreply@blogger.com0